Enquanto ainda tenho tempo


Enquanto ainda tenho tempo, contarei o que aconteceu até agora.

No meu aniversário de treze anos, na semana retrasada, meus pais resolveram fazer uma festa surpresa. Eu não era um dos maiores fãs desse tipo de festa. Meus colegas ainda pensavam que quem tivesse a melhor festa era mais prestigiado. Coisa nossa.

Lembro-me bem do dia. Estava voltando da lojinha da esquina com meu pai e fui surpreendido pelos meus amigos em casa. Foi bem estranho, para falar a verdade. Eu não soube como reagir na situação. Meus pais falaram para todos irem até o pátio pela lateral que ligava o jardim da frente com o pátio. Ficamos bem atrás de casa, mais ainda foi possível ver o portão de entrada da minha casa. Nesse momento eu vi o palhaço.

Ele estava bem próximo do portão. Parecia estar observando a festa de longe, apesar de poder ver somente uma parte dela pela lateral do jardim. Corri até a minha mãe que estava na cozinha.

"Mamãe!", eu disse desesperado, "Tem um homem vestido de palhaço nos observando". Eu posso ter exagerado na reação, mas eu estava assustado. "Querido, acalme-se", disse minha mãe, "Ele vai ser o animador da festa". Isso definitivamente não me deixou feliz. Eu a disse que não queria que ele viesse. O porquê? Não sei.

De qualquer maneira, ele era bizarro. Parecia ter saído de uma briga ou algo do tipo. Ele usava uma roupa normal de palhaço. Seria bem colorida, se ele não estivesse sujo. Azul, amarelo e vermelho. Essas eram as cores espalhadas na sua fantasia. Eu não podia nem chutar a idade dele, afinal, ele estava usando também uma máscara aberta somente nos olhos para que ele conseguisse enxergar e uma peruca vermelha. Lembro também que ele era bem baixinho e, certamente, estava acima do peso. E ele ficou na cerca por um bom tempo, apenas nos observando.

Após ser convidado para entrar, nada mais me animou. O grotesco palhaço não sabia fazer nenhum tipo de animal com o balão e não conseguia ser engraçado. Outras crianças também ficaram assustadas, pois consigo me recordar da maneira que olhavam para ele.

Depois da festa, perguntei aos meus pais quem ele era. Para meu pavor, eles sequer sabiam o nome dele. Ouviram falar que ele era um bom animador de festas.

No colégio, logo no dia seguinte, todos comentaram do palhaço para mim. Confirmaram minhas expectativas: boa parte de meus colegas se sentiram desconfortáveis. Apesar disso, tentei esquecer do desastre que foi minha festa de aniversário.

Meus pais não questionaram nada sobre o assunto e ficou por isso mesmo. Tive alguns pesadelos, mas nada que me afetasse muito. Contudo, na semana passada, algumas coisas estranhas começaram a ocorrer.

A primeira coisa é a sensação de estar sendo observado. Ninguém merece estar voltando para casa e se sentir observado. A segunda é se sentir perseguido. O pior de tudo é confirmar essas duas coisas.

Naquela mesma semana, quando estava voltando para casa, o mesmo palhaço apareceu na cerca da minha casa. Bem na frente dela. Ele ficou me olhando, parado. Como se estivesse congelado. Corri para casa, com medo de ser agarrado por ele. Falei aos meus pais que ele estava bem ali. Não acreditaram em mim. Ele tinha sumido.

Hoje, na sexta-feira, uma semana depois desse ocorrido, sofri algo pior ainda. Perto de casa, ouvi alguém chamar meu nome. Parecia estar atrás de mim. Sons de passos ficaram cada vez mais altos. Quando parecia estar próximo de mim, tive finalmente a coragem de me virar.

Nunca esquecerei o que vi. De repente, ele estava segurando meu braço e eu estava paralisado. Por sorte e impulso, consegui me soltar dele. Corri. Corri o mais rápido que pude. Enquanto corri, podia ouvir "Acalme-se, Carlos, eu não quero te machucar!".

Quando cheguei em casa, tranquei tudo que tinha direito. Portas, janelas e a até mesmo a entrada do cachorro. Assustada, minha mãe questionou por qual motivo estava eu tão pálido e agir daquela forma. Não a respondi.

Agora, antes de dormir, meus pais quiseram conversar comigo. Recusei, afinal, eles provavelmente não acreditariam na minha história. Eles apagaram as luzes e finalmente fechei os olhos.

Acordei agora. Algumas horas depois de ter caído no sono. Eu tentei me levantar da cama. Minha mãe entrou agora no meu quarto.

Estamos escondidos. Ouvimos alguém subir as escadas. Está chamando meu nome. Socorro.

Adaptada de [Reddit].

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