A garota da tubulação


"Quem é a garota da tubulação?", perguntou minha filha de quatro anos diretamente do andar de baixo.

Fiquei em pânico, já que ela acabou esbarrando com essa bizarra foto que anda pela internet.

"NÃO clique no link, querida!", gritei para Jéssica. Estava deitado consertando a pia do balcão da cozinha, então acidentalmente bati minha testa nele quando fui me levantar. O pânico e a adrenalina na minha corrente sanguínea saltaram enquanto eu corria até a sala de estar. Eu esperava ver a imagem aberta no iPad que estava nas mãos dela e até mesmo achei que era tarde demais: ela já teria visto a imagem e não a esqueceria mais.

Minha esposa e eu só deixamos ela jogar no tablet nos finais de semana. É só uma pequena recompensa, assim como víamos desenhos de manhã antigamente. Nós colocamos todas as proteções possíveis e até mesmo tiramos o navegador do sistema. Contudo, até mesmo o pai mais super protetor do mundo entende que as crianças observam o controle dos pais nestes tablets como se fosse um desafio qualquer. Corri até ela e vi o seu rosto curioso na frente da porta do banheiro. Respirei fundo, aliviado, enquanto ela falava sobre a nossa banheira.

"O que você quer dizer com isso, querida?", questionei ela, disfarçando minha preocupação com um sorriso.

"A garota da tubulação, quem é ela?", Jéssica perguntou inocentemente.

"Ora, que garota?", perguntei a ela enquanto andava em sua direção, pronto para mexer no cabelo dela - até notar que minhas mãos ainda estavam engraxadas.

"Aquela que repete tudo que eu digo", disse Jess. Caminhei até o banheiro. O pai super protetor presente em mim estava pronto para resolver a situação. Inclinei-me para ver a banheira que estava preenchida com um pouco de água. Olhei para o ralo, pensando no que responder para Jess enquanto observava o buraco de uma polegada e meia. Pensei em dizer que uma duende se escondia no ralo e repetia tudo que ela dizia, mas logo pensei em uma explicação melhor para o que ela ouviu.

"Ah, é só o eco, meu amor", comecei a explicar. "O som viaja por ondas, e então as ondas são empurradas de volta" - eu explicava enquanto fazia gestos - "e elas fazem o eco. Você ouve a sua voz um tempo depois, como se fosse um bumerangue!". Ela assentiu, mas logo fez uma cara de confusa e franziu as sobrancelhas.

"O que é um bumerangue?", perguntou ela sorrindo, achando graça do som da palavra. Sorri e me ajoelhei para ficar no nível dos olhos dela.

"Eu tenho um bumerangue no sótão, guardo-o desde criança. Podemos brincar lá fora assim que o papai consertar a pia, ok?". O seu olhar me deu tudo que eu precisava para aliviar a minha preocupação.

"Promete?", ela perguntou com as sobrancelhas levantadas.

"Prometo."

Voltei à cozinha com um alívio que você só terá quando pensar que a sua filha de quatro anos quase esbarrou em conteúdo pornográfico na internet. A pia da cozinha estava funcionando desde que compramos esta casa, quando a Jéssica era uma recém-nascida. Os dois encanadores que contratei simplesmente classificaram o problema como "água forte" (como uma desculpa para trocar a tubulação inteira). O preço que cobrariam seria de cinco dígitos para a retirada e troca da tubulação original. É claro que eu e minha esposa dissemos um grande não para a proposta. Estávamos lisos desde que financiamos a nossa casa.

Eu fui certificar se o registro da água estava fechado. Com uma chave inglesa e toda minha força, tentei afrouxar a porca de bloqueio da pia. Quando consegui, uma mecha de cabelo preto e um jato de líquido salgado saltou em meu rosto. Tossi enquanto tirava aquilo do meu rosto. O gosto era horrível.

Olhei novamente para onde aquilo saiu, e havia muito cabelo. Pelo menos vinte centímetros de cabelo eram visíveis. Indaguei se o dono anterior tinha algum salão de beleza na cozinha. Fiquei apavorado enquanto observava a massa de cabelo encharcado e oleoso ser sugada novamente para o cano, até ela sair completamente do meu campo de visão. "Deve ser algum entupimento nos canos, pensei" e em seguida ouvi um grito. Era a Jess.

Corri pelo corretor, esbarrando na parede e batendo os pés nos pisos de madeira até chegar no banheiro. Jéssica estava de pé na porta do banheiro novamente, visivelmente assustada.

"Estou aqui", disse, segurando ela nos meus braços. "O que houve, querida?", questionei enquanto sentia suas lágrimas escorrerem na minha camisa. Ela apontou para o banheiro, a fonte do seu pavor. Entrei e, observando a banheira, fiquei congelado.

Haviam dois longos e finos dedos saindo do ralo. Eles eram acinzentados, magros e estavam encharcados. As unhas eram esbranquiçadas e translúcidas. Visivelmente desgastadas. Não pareciam humanos, mas os dedos certamente não de animal algum. Minha mente tentou achar uma justificativa para aquela coisa. Como aquilo foi parar ali? Será que fazia parte de algum brinquedo ou de outra coisa do último Halloween? Eu esperava que fosse. Mas então os dedos se moveram. Os dedos começaram a se mover desesperadamente e arranhar a porcelana da banheira. O som agudo que eles faziam me deixou arrepiado. Minhas pernas tremiam. A mão deformada saiu do ralo, e ela era semelhante a uma asa de morcego, mas sem o patágio. Os dedos eram finos e muito pálidos.

A pele parecia como um papel molhado e amassado. Gritei enquanto aquela mão aparecia saindo do ralo. Pude ouvir um sussurro rouco e profundo da pia do banheiro. Jess gritou, alertando-me que ela estava vendo tudo. Me virei e a abracei, dizendo que ela poderia ir ao quarto dela enquanto eu consertava aquilo. Mas eu sabia que não havia conserto. Dei alguns passos para trás, recuando, e, enquanto Jess corria para seu quarto, fechei a porta. Liguei para a polícia enquanto observava a porta nervosamente. Fiquei o tempo inteiro ouvindo os sons inquietantes enquanto aquela coisa arranhava a banheira e murmurava.

Depois que os policiais responderam, o control de animais foi acionado. Passei um bom tempo, quase meia-hora, consolando a Jessica enquanto eles investigavam o que havia acontecido. Logo em seguida, muitos carros chegaram. Provavelmente oficiais de investigação mais avançada. Os veículos do controle de animais saíram do local. Foram substituídos por ambulâncias e viaturas que iluminavam toda a nossa rua com as fortes luzes vermelhas e azuis.

Um dos médicos de emergências falou "Meu Deus!" e correu com medo do banheiro. Tempo depois, minha filha e eu fomos encaminhados para fora de casa e os policiais nos recomendaram hotéis para passar alguns dias. Um detetive que chegou em seguida tentou nos impedir de ouvir detalhes sobre o que aconteceu, mas eu consegui escutar alguma coisa que eles descobriram sobre o médico que saiu correndo e estava chorando na ambulância. Eu ouvi cada detalhe que eles descobriram sobre o que havia na tubulação da minha casa.

Pelo que entendi, a proprietária anterior da casa parece ter dado à luz um bebê prematuro enquanto estava na banheira. Ele foi empurrado, intencionalmente ou acidentalmente, para o ralo. O bebê ficou emperrado no tubo de conexão que estava conectado à pia da cozinha. As partículas de comida lavadas na pia da cozinha forneciam todos os nutrientes para ele. O recém-nascido conseguiu sobreviver assim. Enquanto ouvia isso, tentei me segurar ao máximo para não desmoronar. Um anel de dentes deformado se projetou na gengiva dela, permitindo que ela crescesse e se alimentasse dentro da tubulação.

O seu corpo cresceu dentro daquela estreita prisão, uma completa deformação que cresceu ano após ano. Eu ouvi com pavor enquanto o paramédico disse que a garota da tubulação estava vivendo, se é que você pode chamar isso de viver, na tubulação por quase vinte anos. Nesse momento, o táxi chegou. Eu estava tremendo e em choque. Pensando que o meu medo inicial era pra ser o primeiro.

Traduzido de [Reddit

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